quinta-feira, 20 de maio de 2010

É apenas mais uma das varias entrevistas que fiz no ultimo ano, tenho experiência, um currículo ótimo e, diga-se de passagem, invejado por muitos da minha área de atuação, mas depois dos 40 fica extremamente difícil arrumar um emprego tão bom quantos os anteriores, quando você é mais novo, energético e pró ativo.
Não tenho mais disposição para começar lá embaixo com um salário horrível pra só daqui uns 10 anos chegar onde eu estava na empresa anterior, alias daqui 10 anos quero começar a pensar na minha aposentadoria e não na carreira brilhante que me espera. Isso eu pensava anos atrás, logo que sai da faculdade, como aluno exemplar e adorado pelos professores.
Pensando na época da faculdade lembro de um dos colegas de classe, coitado o que será dele hoje em dia, naquela época já não era esperado muito coisa e se hoje eu preciso de um emprego quem dirá ele afinal!
Sempre com notas medíocres, correndo atrás de pontos e dos professores para ganhar um pouco do afeto que vinha a mim tão facilmente, eu um aluno brilhante, que sempre estava entre as melhores notas da sala, me destacando e atraindo a inveja de muitos, principalmente dele, adorava ridiculariza-lo na frente do resto da turma, não ganhava nada com isso a não ser uma satisfação diabólica que sempre jurei manter escondida, mas que sempre era destinada a ele.
Meus devaneios são interrompidos pela voz da secretaria me convidando a entrar na sala do diretor geral, já tinha passado de todas as fases do processo de seleção e se depois da conversa com o diretor geral me saísse bem estaria no mesmo cargo do ultimo emprego com um salário razoavelmente melhor.
Entrando na sala aquele senhor me parece tão familiar de algum modo estranho, apertei a sua mão e ele com um sorriso debochado disse:
-Que bom que pode vir hoje, queria tanto ver como o brilhante aluno se saio depois da faculdade, vejo que não tão bem quanto esperava não é mesmo?
Na mesma hora lembrei, era o aluno de notas medíocres a quem eu sempre ridicularizava e que agora era diretor geral de uma grande empresa, na qual eu desejava muito um emprego, me vendo sem ação ele terminou a entrevista dizendo:
-É com grande prazer que digo que o senhor não se encaixa no perfil da empresa.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Abriu os olhos dando de cara com o rádio relógio marcando em grandes números vermelhos, nove horas e trinta minutos pensou “Merda! Estou atrasada”, levantou rapidamente correndo em direção ao banheiro, tirou a camisola rosa de cetim que tinha escolhido a dedo para surpreendei o marido na noite anterior, tinha tudo planejado para ser a noite romântica que há muito tempo não tinham, depois de casados a alguns anos o romantismo se perde sem se perceber, saiu mais cedo do trabalho para ter tempo de fazer o jantar preferido do marido, depois que estava tudo pronto tomou um banho demorado, abriu a gaveta e lá estava a camisola que tinha ganhado do marido no ultimo aniversário de casamento e que estava guardada para um momento especial como esse.
O marido sempre chegava às oito horas da noite e já passavam das dez quando ela percebeu que tinha bebido metade da garrafa de vinho, antes reservada para o jantar, e o marido não tinha dado sequer um telefonema. Terminou o vinho com a raiva e a solidão ao seu lado, pegou o telefone e discou o número do celular do marido, depois de alguns toques caiu na caixa postal, desligou o telefone e o arremessou em direção a cozinha.
Ficou mais alguns minutos no sofá imaginando onde o marido poderia estar, com quem e o que estava fazendo que seria mais importante que a sua companhia, levantou e percebendo que estava um pouco tonta pelo efeito do vinho, foi direto para seu quarto, deitou em sua cama com as mãos na cabeça e chorou durante alguns minutos até pegar no sono.
Durante o banho se deu conta de não lembrar de que horas seu marido tinha voltado para casa e nem que horas tinha saído para trabalhar, saio com o cabelo enrolado na toalha branca e olhou para a cama, estava intacta do lado que seu marido dormia habitualmente, a vontade de chorar voltou mais dessa vez ela não cederia tão fácil, abriu o armário e escolheu uma bermuda caqui e uma regata branca, nesse momento seu telefone tocou, o identificador de chamadas indicava que a ligação vinha do celular do marido, pensou durante alguns segundo em não atender, mas não resistindo atendeu, do outro lado da linha uma mulher que se identificou como enfermeira avisou que um homem havia sofrido um grave acidente de carro e o a ultima ligação vinha desse numero, nesse momento desligou o telefone e saiu correndo de casa, entrou no carro e a caminho do hospital pensou “Ainda bem que ele não está me traindo.”.